Carta de uma professora ao Presidente da República PortuguesaExmo Senhor Presidente,
Serei breve,
a minha missiva era inicialmente destinada ao senhor deputado que pediu a presença da Senhora Ministra da Educação no Parlamento. Acontece que o que iria narrar ao Sr. Deputado é de índole generalista e nacional e reportando-se a uma realidade que afecta tantos milhares de portugueses, direi mesmo, grosso modo, ainda que indirectamente, a maioria, quem melhor que o presidente de uma nação para dela tomar o devido conhecimento. Diz-se que uma nação que não trata da educação, não trata do essencial, mas eu não usarei de parábolas, Senhor Presidente, o futuro que se vive hoje, é mais futuro, pela quase contingência de tocar as fronteiras de uma existência surrealista. Uma onda economicista varre o país em todos os quadrantes, falta prever os resultados a médio prazo. Nas escolas, o assunto que aqui me traz, vivem-se cenários fantasmáticos, de gente desorientada a quem se pede orientação, até porque esta é a fundamentação deontológica da nobre função de ensinar - orientar, encaminhar, indicar...São Despachos e mais Decretos e mais Artigos de outras tantas Leis, todas elas enumeradas crono´logicamente datadas, todas ao mesmo tempo e em catadupa, a meio de uma ano escolar que já está programado, até porque directivas ministeriais a isso obrigam, necessitadas de serem rapidamente absorvidas para se poder dizer SIM ou NÃO ou TALVEZ...
Mas a escola, terão esquecido os responsáveis da tutela, que a escola deve ser um local de encontro, de partilha, de entrega, de discussão, de debate, de articulações de trans e inter/disciplinaridade, de disciplinaridades?
Pois bem Senhor Presidente, as escolas (pelo menos a maioria delas), neste país, estão transformadas em terrenos minados, com alçapões dos quais não se conhece nem a profundidade, nem a possibilidade de escape, caso se caia lá para dentro. É necessário que se escutem os verdadeiros interessados - professores, alunos e os encarregados de uma educação que se quer plena e não truncada de direitos fundamentais. Tudo aparece tipo fast food para consumo e fácil (in)digestão, sem se saber da opinião e da vontade destes agentes da verdadeira mudança. Parece que as estatísticas, os numerários, o sucesso das percentagens são de facto a mais valia destes tempos arredios da sensatez. Vórtice e completo atropelo é a realidade das Escolas Portuguesas, não se ouvem as vozes porque ainda ecoam muitos timbres de outros tempos, não muito distantes. Silêncio amordaçado! A boca calada com a insegurança do dia-a-dia, dia presente feito já futuro pela irrealidade de se poder dar a isto o nome de presente. Só se for envenenado Senhor Presidente, só se for envenenado…
Os meus respeitos,
Georgina Bastos,
Professora de Filosofia