Caixa de Cartão
A obra do americano Rauschenberg esteve em Serralves até ao dia 30 de Março. A sua obra aborda, na minha perspectiva, um dos maiores problemas das sociedades industrializadas actuais, a produção em massa de todo o tipo de objectos. A caixa de cartão simboliza na obra deste autor, o objecto mais paradigmático. Caixas assembladas, coladas, marcam a simplicidade da vida. A nossa vida vista sob a perspectiva de uma ou várias caixas. Caixas que guardam ou podem guardar pertences, embalagens para consumo, aglomerados de caixas vazias sem uso no lixo, caixas que resguardam um corpo que dorme na rua, caixas que transportam objectos em viagem, caixas que levam novidade, caixas que nos remetem ao silêncio da morte. Um olhar comprometido com a vida não pode ignorar esta reflexão. Falamos de produtos industriais e não podemos voltar atrás no tempo. Não podemos voltar atrás no desenvolvimento das nossas sociedades. Mas esquecemo-nos das infinitas possibilidades dos materiais que estão na base dos produtos industriais. Esquecemo-nos de reinventar, reconstruir, atribuir novos sentidos àquilo que construímos até hoje. Perdemos a noção da simplicidade da génese do ser e essa génese está na capacidade infinita de criar e recriar a partir do que é mais simples: uma caixa de cartão. Os nossos alunos não sabem o que fazer. Criatividade é palavra difícil, o que é compreensível porque tudo lhes é facilmente dado. Já não se pega numa caixa de cartão, numa lata, num arame, num fio, num pau, numa garrafa de plástico com a simples e mera ideia de criar algo que não seja uma caixa, um arame, um fio, uma garrafa de plástico. Onde estão os brinquedos artesanais? Já foi a época deles. Mas e a época dos brinquedos industriais reinventados? Ou a época dos brinquedos criados a partir de materiais industriais? Quando será a época de darmos a perceber às novas gerações a urgente necessidade de criar novidade? Porque esperar passivamente por ela na televisão e ir buscá-la às grandes superfícies comerciais pode significar o profundo desnorte e bloqueio de toda uma sociedade, de toda uma geração. Queremos ver jovens nas salas de aulas e nas ruas das nossas cidades sem qualquer objectivo, interesse ou sentido de existência?
/Liliana Félix Leite, residente na Trofa.
Professora de Educação Visual e Tecnológica da E.B. 2,3 Leça da Palmeira. - Este domingo fui a Serralves. A exposição de um americano marcou-me de um modo que até aqui poucas exposições me marcaram. Não pude deixar de escrever um pequeno texto sobre ela e se calhar pode ser uma reflexão interessante para um jornal escolar. Não sei mas acho que às tantas estou a propor-me para colaboradora do jornal. rs. De fininho, lá vou mostrando os meus textos.
- E é mesmo muito interessante, Liliana- Continua assim, atenta e crítica. A redacção do jornal só pode felicitar-te e felicitar-se por ter colaboradoras como tu. Apesar de a vida de professor que inicia a carreira não prometer ser uma caminhada nada fácil, com gente corajosa e inteligente nada há que temer. Em frente é que é o caminho e quando se parar, que seja para se reflectir como tu fizeste nessa exposição que te inspirou a escrever. CONTINUA e PARABÉNS!
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