O Futuro são as crianças?!Às vezes penso, e não posso deixar de pensar: o futuro é hoje e não amanhã. O futuro são as crianças, diz-se à boca cheia por aí. Mas elas têm todas passado e presente, o que representa uma multidão de histórias que um professor acolhe em si, muitas das vezes recheando o seu imaginário de incredibilidade, espaço este da mente humana que a passos largos se torna mais amplamente desumano. São crianças que vão para a escola de roupa tão amachucada como o seu coração. São crianças sem norte, sul, este ou oeste, como se fossem recolhidas de um qualquer bidão do lixo e sem sequer serem colocadas para reciclagem. As suas vidas, para quê falarmos delas? São vidas negligenciadas, omitidas, escusas, envergonhadas, atrapalhadas, violentadas e tantos mais adjectivos que se possam imaginar. O seu futuro negligenciado é também e sobretudo negligenciado por quem tem o dever de regular as sociedades, de as corrigir, e é o futuro de todos nós porque não vivemos isolados em pequenos cubículos protegidos, onde o mal dos outros não nos afecta. Faz-se crer que os professores vivem assim mas não vivem.
O futuro não são as crianças, dizem os professores, mas a aposta e o investimento sério e comprometido nelas, de modo a procurar inverter o mau rumo do seu passado ou presente. Não há livros que sejam pão, não há palavras que sejam casa, não há números que correspondam a dignidade humana, não há conhecimento sem direito a humanidade e condições básicas de vida.
Às vezes penso…mas se o pensamento fosse apanágio de quem governa, o futuro seriam realmente as crianças.
/enviado por Liliana Leite